Tenho medo de secar
E finalmente ser nada,
Como poço solitário e abandonado
Que não sabe viver
A simplicidade objetiva de
Simplesmente estar
Sigo sem deixar nada Além do que fica da minha distração/ Ser humano é ser estrada na dor no amor ou na ilusão
Tenho medo de secar
E finalmente ser nada,
Como poço solitário e abandonado
Que não sabe viver
A simplicidade objetiva de
Simplesmente estar
“Traga-me o próximo,
Meu martelo é sedento e faminto
desTRÓI, desTRÓI
Aquilo que pode ser destruído”
O Martelo impiedoso é frenético,
Não vê perdão, nem súplica
“CoRRÓI, desTRÓI
Tudo deve ser destruído”
“Cuidado Martelo, cuidado Trovão
Nessa dança mimética instintiva
Pode ser o próximo no mundo em destruição”
“Destrua, desTRUA
Me leve na corrente louca
Solte minha alma enfim
Para o Réquiem final de meu grito!”
O Abutre sobrevoa destroços
Pedaços decreptos apodrecidos
Processo do que um dia foram coisas,
Sonhos crentes do coração desiludido
Ao longe se ouve o berro
“desTRÓI desTRÓI
Pedaços em desconstrução
Não sobra olho, braço, espírito
Medo covarde ou a cabeça da Razão”
Ao longe se ouve um suplício
“desTRUA desTRUA
O prazer de morte enfim
Quebre-me os pedaços
Pois eu não sou
Se o eu for enfim,
Ilusão”
Se eu não for
Eu não quero saber!
Para que alimentar a memória,
Concubina sedutora e ilusória,
Com a morte do presente viver?
Se for pra ser,
Ao caminhar o saber
Apresentar-se-á para mim
Como fumaça
Entrelaça-se pelos passos,
Faz dançar ao dar graça
À caminhada que parece
Não ter fim
E agora convencidos
Para onde vamos?
Embebedar-nos na saudade
Ao chorar aos braços da nostalgia?
E agora, convencidos
O que nos resta?
Arrastar-nos sem sonhos
Ao viver com pressa?
Quando foi que tudo aconteceu?
Em que minuto, ou ano
Ou geração maldita
A passividade sobre todos se abateu?
Como foi que as coisas assim ficaram?
Com que mentira, violência ou rotina
Nossos sonhos estupraram?
Qual promessa, ilusão ou conforto
Foi forte para nos convencer
Que a nossa amada, utopia
Não é o viver
Qual é a mentira que nos engana
Desde o principio
Qual a ilusão que nos faz brinquedos
Desde o inicio?
Pensam que só perguntas
É que nos resta
Mas o nada sempre esteve ai
A espreitar na fresta
Das pernas de nossas ilusões
Na fechadura do quarto onde
Não somos senão quando
Seremos enfim agora
No resumo
Respondo com o que nunca fomos
A pergunta que sempre é,
Aquela que ecoa na lágrima do sacrifício
Ou no silêncio da resignação
Mas quem terá coragem
E que será correndo
O ser que loucamente grita
A vida em si crescendo?
Mas quem terá coragem
De olhar de si pra dentro
Enfrentando aos berros
A própria voz de um ser morrendo?
Pois numa caminhada
Na qual não se sabe o valor da morte
Tampouco valor
A pobre vida tem
Tanta coisa pra fazer
E eu estou aqui,
Acho que é nesses momentos
Que realmente descubro
O que é momento
O mundo
Poderia desabar em tormenta
E levar tudo o que deve ser feito
Mas a verdade é que
O momento só existe
Pois o delírio já se abriu
E vorazmente engoliu
Tudo o que não era vida
Parado eu observo tanta coisa
Inclusive o espaço entre as imagens
A preencher o vácuo entre pensamentos
Sentando de maneira plena
Na sincronia imprecisa das gotas de chuva
Por isso sento, paro
Observo, vejo e escuto
E as coisas que deveria fazer
Esperam ou queimam
São apenas um rabisco sujo
Na vida inconsciente
Pela qual se esgueiram
(eu estou aqui, elas não sei
Deveriam procurar algum lugar
Para estar)
No final das contas
Os momentos não existem
Aos montes como deveriam
Pois o movimento ininterrupto de tudo
Faz parecer que o parar assusta
E que o nada fazer
Excomungado deve ser
Como um erro insensível de quem não vive
Sendo assim, não faça nada amigo
E amigos seus os momentos serão
Louco mesmo é ato
Aquilo que fazemos
Sempre tem sua pontinha de normal
Sua semente de coisa chata
Louco mesmo é o ato
Às vezes tudo parece tão simples
Como viver um dia!
E quem disse
Que deveriam ser diferentes
As horas sinceras
Do que pode ser chamado de vida?
E quem disse que é tão fácil
Não se perder nos haveres
Que existem por aí?
À vezes tudo parece tão simples
Como viver um dia!
Se já está tudo em ruínas
Como alguém pode considerar autodestruição
A tentativa daquele que das ruínas quer sair
Se já está tudo arruinado,
Como pode alguém considerar arruinar-se
A tentativa de vislumbrar
Além de paredes podres?
Como pode o ídolo apedrejado
Alguém lamentar?
Se o todo já está em ruínas
Como pode alguém considerar desperdício
Atear o fogo faminto
Sobre as cinzas
Do que nunca existiu?
Se já não presta mais nada
Deixem que se tente de tudo
Pois talvez daí nasça o presente
Que não se apresenta nas promessas do futuroQuanto mais procuro
Menos consigo me encontrar...
Se aproximando cada vez mais
O Nada vem para me levar
Corro, Corro
E minha velocidade parece fazer a luz se apagar,
Quando tento novamente acende-la,
Percebo ser nela que o Nada está a se alimentar
Quanto mais procuro
Menos entendo o mundo que me envolve
Quanto mais temo e cavo fundo
Mais longe fico de entender o mundo
E se correr não adianta
E se procurar só confunde
Desisto de tentar entender o que está no claro
Para viver e sentir o mistério do escuro
Abandono a luz que me enganava
E deixo o nada ser o tudo
Sendo assim sou levado por aquilo que procuro
Passo a ser o nada sendo o mundo
Se algum dia em alguma parada
Em alguma montanha ou pôr do sol
Algum qualquer me parar e perguntar
Viajante por que viaja para onde vai?
Qual é o motivo desse estradar?
Serei sincero como um passo sem rumo
Ao lhe dizer para procurar em meu olhar
Se o curioso insistir e teimar
Direi que sou como uma nuvem
E que é o nada que está a me orientar
Se ele não entender e insistir novamente,
Perguntado por que simplesmente não paro
Serei sincero como um passo sem rumo
Ao lhe dizer para procurar em meu olhar
Acho que todo aquele
Que é demais de alguma coisa
É pouco de todo resto
E o resto não é coisa pouca
É em si
A vida
Em algum céu azul qualquer
A vontade de viver baila sob as nuvens...
Lá, aqueles que proclamavam crenças e ilusões
Agora cantam, amam, desiludem
Os que esperam ciclos de tédio e rotina,
Para guiá-los em sua jornada,
Decepcionam-se quando percebem
Que lá os dias não tem horas, nome, nada!
Apenas o deleite ingênuo presente
Nos momentos eternos e cíclicos
Podem oferecer um lampejo
Para procurar algum nome para o dia,
Se nomeá-lo não faz sentido
É por que não alimenta as entranhas da rotina!
Então o chamem apenas de vida, baderna real
Uma criança faminta que se lambuza no caos
Lá! Lá vai a Ilusão
Para, dança e chora
Desiste e se junta à aurora
Seu nome se torna canção
Lá! Lá vão as cores
Riem, mesclam-se e amam
Numa orgia que se torna farra
Desmancham o mundo em flores
E agora que as representações findaram,
Desiludidos dos papéis e promessas,
Volto-me para a última esperança:
Levantar, enfiar o casaco e ir para casa
Mas quando me viro
Lembro-me que “Lá!”
Foram queimadas casas e casacas