domingo, 24 de agosto de 2008

Angustiando-se

Pensar em poesia é uma besteira que me consola
Pois se é poesia de fato
É machado, sentimento que descola
A minha alma de seu medo
Hipócrita de personificação
Do pestilento ser que teme
Olhar-se ao sangrar dominação,

Do podre humano que foge
De sentir nos ossos o amor
Pela vida, por tudo
Dionisiacamente sem pudor


Senti que nos últimos tempos
O meu interior me domina

Na angústia das dúvidas
No desejo covarde que alucina

Por isso mato essa palavra fraca
Que na dança louca do intenso Brasil
Ainda é observação covarde
Que não vibra



...

A raiva que eu sinto

Por ser o que mais temo

Revela-se em versos:

Silencio do extremo

Correnteza

Minha poesia é verso podre

Nada de densidade lírica

Nada de coerência rítmica

Nada de elegância estética

Nada de sentido verdade

Minha poesia é verso podre

Nada de poética empática

Nada de sedução literária

Nada belo

Nada feio

Nada Nada

Na corrente

Desse infinito rio

Tudo se afoga

Sinceridade

No fundo sei que estou apenas gastando as horas

Aproveitando a podridão que me permeia

As minhas entranhas presentes nesse mundo engraçado

Pois sei que o sentido mora ao lado

Pois sei que meus os olhos o alcançam sempre

No repousar muito além

Do mero e patético sapiente

Ser que pensa o mundo

Ser um Olho

Olho para tantas coisas

Esforçando-me para ver deveras

Onde o olho não alcança

Por isso quero me transformar em olho

E sair por ai olhando

Pois olhar enquanto se petisca um cérebro

É a melhor maneira de aprender a ver

Regurgitando

Cadê?

Vou

Cansei


Se fazia

Sentido

Vomitei

Lirismo Barato

Hoje em dia leio poesias de lirismo barato:

Todos são loucos e amam o irracional

Mas no fim é tudo uma palhaçada

Mal feita e sem graça


Se convidados pelos próprios lábios da loucura

A bailar e banquetear no palácio insano

Correm todos aos compromissos

Às ilusões do mundo mundano


Antropofagia é coragem

O velho entra e sai profano

Radicalismo vivo e real,

A loucura em seu estado letal


Se fossem todos, o que dizem

Seriam infinita a beberagem e anarquia

Libertarianismo doce,

O Romance lúdico da orgia

Derivações

Suspiro:

Susto-pirofágico

Autofágico

Carro-mágico

Para o infinito fogo interno

Sensibilidade

Vivo um tempo

Ligado por nós de cores difusas

Vindas da falta de coerência

Sentindo um eterno presente desconexo

Em um labirinto de paredes polifônicas


Meu sentido de permanência

É algo que, enquanto salta, flutua

Sobre a cama que viaja sem resistência

Pela galáxia do agora surreal que se insinua


Não faz sentido a importância que não dou

Pela coerência perdida nos signos que trocamos

Pois quem disse que deveria haver

Mais do que um troca caótica

Na orgia do banquete de sangue que encenamos?


Não precisar das verdades

Ao derivar consciência da ausência

Deleitar-se na contradição sem pudor

No seio das visões fragmentárias

O Desencanto e a Resistência

Mecanismos, metal e plástico

Sistema, estrutura e previsão

Com isso me pergunto se foi a vida inteira

Engolida e aprisionada na razão


Angustio-me de maneira solitária

Procurando onde foi parar o Encanto

Temendo que seja o próprio mundo

Sua trágica capela mortuária


Mas felizmente me toma em espanto

O mistério da própria existência

Não preciso chorar, não faz sentido o pranto

Pois o Mundo desencanto ainda encontra resistência


Escondido e encravado na alma de cada vivente

Estão a Magia e o Imaginário...

A rotina aprisionante desse mundo ausente

Não é nada frente a esse real poder revolucionário

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Entrelinhas

Aquilo que penso que sou...

Por quem é pensado?


Se não sou eu que penso,

Pensa quem sobre o que sou?


Perguntas que me respondem

Que o que penso

Está errado

O Dia do Louco

Risadas e Risadas

Ecoavam pelas ruas

Festas lantejoulas e luzes

Enfeitavam a beberagem sem fim


Foram assim os primeiros dias

Do desgoverno do louco

Pessoas sem nome e sem dono

Felicidades sem rédeas enfim


Pouco a pouco a coragem ia embora

Semanas de loucura sem nome

E de fogueiras alimentadas com relógios

Assustavam aqueles que esperavam o esperado

Após o raiar colorido da aurora


A lei era o fogo, volúpia e prazer

Queimem as regras e os juizes

Ame sem limite e sem nome,

Afinal a liberdade é chama que consome


Quando cantou a boa nova

A terra e alma entraram em transe

Choque, alegria e esperança

Daqueles viventes até então sem vida


Mas pouco a pouco a coragem ia embora

Semanas de loucura sem nome

E de fogueiras alimentadas com relógios

Assustavam aqueles que esperavam o esperado

Após o raiar colorido da aurora


O louco não passava um dia

Sem fazer amor barulhento com a loucura

No primeiro dia matou sua família

Na segunda seu deus e professores



Afinal ele era livre era louco

Arauto do delírio, desvairado em fissura

Estimulava todos a fazerem o mesmo:

Matar todos, no ser, que não eram luzes


Tornou-se foco de ódio e escrutínio,

Ele amava a critica e as pedras!

Tornou-se fonte de esperança,

E odiava essa rainha ilusória!


Os primeiros a atacarem

Foram os tediosos e covardes

Os primeiros a abandonarem,

Os revolucionários do futuro


Preferia amar a Insanidade, a prostituta

A cumprir as promessas do amanhã


Certa vez em uma noite estrelada

Foi beijado finalmente por sua amada

Como não entendia o porquê do apego

Na necessidade de um guia salvador


Abandonou e largou seu projeto,

“Deixe que os loucos e vagabundos o construam”,

Mergulhou na noite estrelada

Para queimar na eternidade sem pudor


Pouco a pouco coragem ia embora

Mas a utopia ainda dança nas cabeças sem nome

Alimentada pela verdade da diferença,

O sonho continua a apavorar

Aqueles que esperam o esperado após o raiar da aurora

Crueza Sensorial

Nesse momento prefiro o minimalismo covarde

À falácia dos grandes planos

Sou o mínimo rebelde mais visceral do universo

E não me digam nada sobre erros e castigos


Deixem-me estar em meu mundo

Mesmo que todos, sendo eu o principal

Saiba que o fim é a única verdade


Não me falem sobre o dever e as leis,

Sejam as cósmicas ou as naturais

Sei tudo sobre o sono da ignorância

E se dormir foi minha escolha,

Por cada segundo de meus preciosos sonhos

Não me acordem


Não definam a radicalidade de estar vivo

Pois a negação de tudo

É a radicalidade exposta á alma dos covardes


Deixem que sonhem todos os loucos

Deixe que o suicídio coletivo em curso continue

Zombemos das mortes

E vamos beber e dançar com aqueles

Que acordarem a tempo de verem as vísceras expostas

Temperando os Segundos

Posso escrever melhor

Buscando a catarse

De mais escrever?


Procuro a poesia em mim

Ou nas não-coisas sagradas

Que meus olhos podem ver?


O mundo está enfim

Ou eu, enfim,

Estou no mundo?


Perguntas bobas simplesmente

Para temperar

O devorar dos segundos

Conto Experimental

“Me diga qual é o seu problema...” Disse o louco logo após a minha entrada.

-O nada e a crença – respondi.

Minha voz soou de uma maneira forte apensar de timida pelo aposento vazio, enquanto sentia meus lábios ressecarem pelo fato de pressentir mais um fracasso. Ao observar as paredes comidas pelo tempo e pela infiltração mal cuidada a sensação de que ali era o local onde o nada me levara era ainda mais forte.

-E o que o faz pensar que eu poderia ajudá-lo em tal problema?

-É que já tentei de tudo, psicólogos, ideologias, sexo, drogas... Para mim nada faz sentido por mais de um ou dois dias. Pensei que alguém com olhos diferentes para as coisas pudesse me ajudar a aceitar tudo isso...

Logo após de me confessar de uma maneira que eu nunca havia feito, pois sempre escondia o vazio em floreios poéticos ou notas musicais, me senti ainda mais idiota. Como um morador de rua visivelmente bêbado, com histórico de anos em hospícios, poderia me ajudar? Essa situação só me revelava a crueza de tudo aquilo, afinal ele não poderia. Ao mesmo tempo que, dentro de toda a minha podridão, eu sabia que ele era o único capaz de me empurrar para o caos. Pois em no máximo quinze minutos eu não mais acreditaria que ele seria capaz de tal proeza, em quinze minutos não acreditaria nem mesmo na idéia de ajuda. Apenas o vazio, era o que restava, ele me ajudasse ou não pois o próprio "não" era uma não saida válida.

-Para poupar tempo- disse o louco enquanto tossia um pesar de dentro do peito- digo que você não passa de um covarde, e que não ajudo covardes. Você não tentou nada, esse é o seu problema, nem o nada você tentou... E eu sou louco por que tentei tudo, até mesmo a crença. Sendo assim deixe-me com meus ratos. Eu não posso ajudar por que não tenho problemas, muito menos com a crença e com o nada, acredito na companhia de meus roedores e nas minhas vísceras e o nada não passa de um devaneio de mauricinhos covardes.

O louco me revelava assim minha própria fraqueza, o porquê de eu não ser o que queria. Não disse mais palavra alguma, virei as costas e sai da casa imunda e abandonada, ao abrir a porta e dar de cara com um árvore como todas as outras, verde e iluminada pelo solitário poste amarelo, senti que encontrara o sentido que me incomodava... Tudo aquilo que meus olhos tocavam agora tinha sentido, nada mais do que cinco metros ao meu redor. As ilusões continuavam sendo ilusões, e todas as crenças o eram, mas o nada, naquele momento, enfim nada se tornou.

Ao dar meus primeiros passos naquele momento eterno de minimalismo transbordante de significado, senti que não mais procuraria ajuda.