quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O olhar

O poeta é
um desencaixado

mantém
o olho vidrado

Na paisagem que o mundo
deixa de lado

sábado, 5 de dezembro de 2009

Flooding Window Blues

Já havia me reconfortado
Com a tristeza chuvosa de meu estado
Concordado em deixar a poesia aos mestres
Enquanto me contentaria
Com o saboreio amargo
Dos restos poéticos que em mim ressoam

A tristeza dos detalhes me abate
Fecho os olhos
E o viver se apresenta como oceano imenso
Convidando a coragem do navegador
Para um naufrágio trágico

Fora de mim o mundo existe
Qualquer conclusão sobre a vida
Enferruja como navio abandonado
O sonho mal aproveitado
Arranha a consciência
Fino vidro cruel riscando o coração

O que me invadiu foi a janela
Uma fresta de respiro em meu silêncio
O que me inundou foi a espera
Poesia transbordando
A tão cortante materialidade
Daquela miragem poética:

A janela quebrada pelo desleixo
Era minha própria consciência em pedaços
Flertando por entre as grades que me sufocam
Com a cinzenta liberdade do céu

Só mesmo em versos
Para manter viva
A metáfora material da minha visão
Só mesmo em versos
Para compreender esse pulsar
Tão agudo do meu coração

Incontente

Por que deveríamos
Nos contentar insuspeitos
Com um pilique qualquer
Se viver pode ser
Uma embriaguez transcendental?

Interlúdio

Enquanto o desiludido
traga seu charuto de cinismo
A margem de erro da paixão
Segue fazendo suas vítimas

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Comentário a (Im)permanência das coisas

é sempre bom ler os seus
escritos
correr atrás
de seus (ditos) vagões poéticos

direto
objeto
do olhar secreto

olho profundo
que o mundo vê

rapi (ki) dinha

Acontece
Que é assim
com poesia

uma basta
até o fim
te fode o dia

(sem título)

Ando pelos compromissos
como uma constante chuva cerebral
Sigo
desprendendo o vazio das idéias
na ferida aberta da realidade objetiva

Vi prédios despejando suas estruturas
Como cimento em chuva
nas cabeças normais
todos os guarda-chuvas usados
Não bastaram frente
a força das dores banais

sábado, 24 de outubro de 2009

Esquecimento (im)próprios

Entrei em outra
Esqueci
A roupa
Certa
para o bailar
sem graça

Encontro
Na corte
Quotidiana
A desgraça

Com os normais
Corro nu
Esquecido
Das memórias banais
Suicido

Quando
Vivo enfim

Nem me lembro
Por que vim

Desertor

Crio
Riscando
as paredes
do verso
cacto
disperso
me dando opção

nado
por mágoa

rimo
por rima
escrever
desatina
incerto deserto
esse meu
coração

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Trasmutação Profana

Algum dia adentrarei o bar
Com o sorriso de quem
Pacientemente guarda um segredo

Retribuirei meus amigos,
Parceiros dessa eterna
Inspeção alquímica da noite,
Com o mais merecido
Abraço bem dado

Meus olhos (vermelhos)
Reluzindo a faísca homérica dos desiludidos
Serão serenos e incisivos
Como os de um sacerdote que vislumbrou o vazio

Minhas palavras (certeiras)
Insistindo nos velhos temas de sempre
Ressoarão eloqüentes
Como o som de tiros fatais em noites de trovoada

Nenhum mal poderá nos atingir
Nada irá envenenar nossa atenção
As preocupações foram mantidas
A kilometros de distância de nossos copos

Deus em sua onipotência
Terá abandonado os vagões de nossa noite
Às vaidades sanguinárias do amor
E no horizonte de nossas horas sem lei
Apenas a fruição cínica
Dos momentos intensos de boemia

Nesse dia
Marcado nos horóscopos poéticos
Terei aprendido a fórmula
Secreta que nos permite
Transmutar desilusão em vida

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Pedido abismal

Resgata-me, por favor,
Com um olhar com um gesto
Retira-me do subaquático funesto
Estado solitário de amor abismal

Seja em mim a luz dependurada
Em uma criatura luminitransmutada
E guia-me pelo labirinto de negras águas
A escorrer de meus sapatos incertos

Daí-me o ar que falta
Para o beijo ser possível
Nos braços náufragos
Seja sonho inatingível
De uma praia para descansar por fim

Seja de meu olho
Ardente e negro
Sabiamente
Um susto uma serpente
Um erro
Para demonstrar do trilho aéreo
A pista

...III

Suspeito

todas
as perspectivas de futuro
me parecem
ilusão

Aos navegadores

A poesia
É mapa
Que não aceita redução

A poesia
Escapa
A própria orientação

Navegar só é possível
No equilíbrio inexprimível
Sobre a corda bamba do infinito

Reflexão em data comemorativa

Lá fora
Pessoas comemoram a data religiosa
Aqui dentro
O que me resta é a chuva
Que cai em gotas de desilusão

O que sobra de mim
Para apreciar o frio da chuva
São palavras em desencontro

A vida é um delírio
Nesse tempo
Demasiadamente efêmero
Tudo o que vivi
De alguma forma já não é

Fico com os resíduos
E assim sigo eu
Ser residual das paixões que tive
Corpo de areia que se desfaz
Com um sopro leve e perene do mar

Como se estivesse

Vivo como se estivesse
Sempre acertando as contas com a vida
Como se a morte tivesse
a prontidão de um garçom que me empresta um isqueiro

Vivo como se estivesse
Partindo para um lugar que não conheço
Como se cada detalhe fosse último
E cada gole
Derradeiro

Vivo como se estivesse
Me despedindo sem saber
Como se cada esquecimento fosse definitivo
E cada beijo
Meu epílogo

Sou um daqueles
Para quem
Viver é estar de partida

Justificativa

Um poema de amor
Nunca faz mal
Que seja simples
Sereno ou banal
Um poema de amor
Nunca faz mal

No máximo incomoda
Como um raio de sol que adentra o quarto
E de maneira ardente
Repousa sem respeito e farto
Nos olhos preguiçosos da paixão

Tua Beleza

Tua beleza
É um silêncio bravo
Tempestade de esmeralda
Nos olhos assustados do silêncio

Tua beleza
É um furacão meditativo
O vórtex suplício
Da minha atenção que se dispersa

Se tu ficas
Te observo te desejo
Basta a distância mínima
Paixão como pólvora
Combustão na lava dos versos

A vida se concentra
Em tua presença
Que precipita sobre mim
O sentido tempestivo do amor

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Somente um Trovão

Não te aflijas, nem te desesperes
diante do infortúnio
Pois o fato dos sonhos
não serem palpáveis
em momento algum
Diz serem inatingíveis ou inalcansáveis.
Então concentra-te no que tu queres,
com o grande almejo,
de paulatina forma
eles virão.
Agora sossega
e recosta a cabeça no travesseiro.
Querendo e não contendo-te
em chorar,
chora!
Não foi nada, somente um trovão!
Lembra-te que as mesmas negras
nuvens de tempestades
jorram água cristalina;
Em meio a pedras e escombros,
o mesmo tropeço
gerador de um lago de lágrimas
revela um vale de ombros

ZARCE

(poema de um grande amigo, poeta e louco, cézar)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

... II

O amor é o trasbordamento
de cada poro
pelo qual me existo
É meu resíduo último
o ponto sonoro
no qual insisto

Discos da Baleia

I
Era uma bela casa
a vida destruiu
Era um bom esconderijo
a vida desfez

era alguma boa coisa
perdida em algum tempo melhor
saber lembrança ou suor
nada restou

II
Tudo sobra
desdobra
Em amor e sonho
passo e sola
Risonho

tempo à vida
para vida em tempo
nos diluimos diluviamos
inundamos sem intento
o acumulo embriagante
de experiências acumuladas
tudo que vida faz com a vida
Todas as curvas que impõe a estrada


III
alguém ficou
para acompanhar a demolição
(em meio a um solo de sax
e a semifusão de um martelo sem pausa)
acampanhou

Tijolo por tijolo que cai
pedaço traço ato
que se esvai

nuvem explode em chuva
gota muda

molhando o tom da vida
Com as cores da ferida
que avança

Estado Poético

I
Carro passa passando
palavra buscada andando
Nada do que escreva atinge
palavras para além de mim

Eu amando
Eu sem nada
Nado...
Eu pensando
Me desfaço
Esqueço...

II
Conter a experiência humana
Expressá-la realizá-la
O humano amor a humana vida
O além do amor o porém da vida
Quando o humano se trans-humana
sublima transpira profana
Os limites de
Estar

III
Toda existência é poética
As luzes dos carros
Explosivas
O imenso novelo de raízes
Nocivas
Trilhos luminosos alimentam as veias
cidades de areia
vasto cogumelo luminoso
o amor que transborda em atos
únicos
todos engolidos pelo canto do sino que vem da praça
todos reduzidos frente a primeira palavra da criança

o trânsito segue
e os horários também

IV
o carro passa andando
por sobre minha poética
Banal
Vislumbre algo
Surreal

toda existência é
poesia
pergunte algo
ao dia-a-dia

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Poética I

Sigo sem deixar nada
Além do que fica da minha distração
Ser humano é ser estrada
Na dor no amor e na paixão

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Química Cósmica

Troca de energias ocultas
em naufrágios mútuos
Seu olhar me matou
em três tiros de crepúsculo

Te observo
Sem que você faça idéia
do altíssimo vôo que realizamos

Eu
Eterno poente
Na busca de Luz e Sombra
Em seus braços
Não sei explicar o que encontro

Sigo sem perceber
O quanto nosso amor
Cava caminhos nas entranhas do nada

Sem notar como
em cada detalhe desferido com convicção
Nos nutrimos como bixos
Do mais intenso cerne do afeto

domingo, 9 de agosto de 2009

Sobre nós

Quanto a nós
que sabemos que a vida é movimento
transitoriedade dolorosa das cores
Quanto a nós
que sabemos que amor é dor
finitude prevista pela bufonaria do tempo

Não nos resta nada
A não ser se amar
Loucamente
A não ser se amar
Simplesmente

Tic-Tac

Insônia incessante
Cessa o sono
Instante
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto

Sendo o sono
Tempo
Tempo sono
Instante
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto

Não cessa tanto
Canso
O tempo segue
Instante
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
.
.
.

O descaso dos relojoeiros

Presente do acaso
Em noite de descaso
Dos relojoeiros do destino
Adiantou-se o tempo
Do encontro repentino
Entre seres que irão se dissolver
Por se amarem até não mais poder

Noção

Vida sem verso
Olho ressecado
Coração
Danado

Risco a espreita
o frio
vazio
deserto

Risco no horizonte
Ardor
pulsante
incerto

Sentir queima
Viver mata

Steps

Sempre atrás
Vai outro passo morrer
Viver é
Deixar de lado
e esquecer

Wintercotidianamente Falando (Sendo)

O clima esfria e o ar torna-se mais denso
como se, para inalá-lo
fosse necessária uma vontade sobre-humana
Os pensamentos antes tão simplesmente à superfície
Agora afundam
Como chumbo chumbo condenado em um mar de leis mundanas
A trilha sonora é o silêncio
das palavras que se lançam ao ar
antes de serem aptas ao vôo
E assim simplesmente caem e morrem
Gestando ao redor de cada ser humano
uma aura fétida proveniente do cemitério de aves caladas
Assentando cada relação humana

Dia Seguinte

Tanto amei e quis amar
Que a vida oferecida pelo mundo é pouco
Perder meus dias no trânsito
E o poder da minha convicção
Em um trabalho que me tornará ranzinza
Pra mim não basta

Quero voar tão alto e tão além
Para cair rápido tal qual um raio
Diretamente para saber ouvir
A história de vida de um amigo verdadeiro

Bailando sempre no contratempo da rotina
Quero fazer amor no cotidiano
Iniciando meus dias dizendo eu te amo

E não me perguntem para onde vou
Ou o que pretendo
Sou relâmpago buscando intenso
uma maneira de precipitar amor

Deixem as preocupações para quem almeja
Controlar o desencontro de caminhos
no tempo ausente do dia seguinte

terça-feira, 21 de julho de 2009

Combustão

Sinto a vida em seu abraço
E a morte em sua ausência
Seu amor é minha essência
E seu beijo meu naufrágio

Estranhezas afloram sem parar
Me carregam tempestivamente
Sua boca Seu corpo Seu olhar
Queimam comigo reciprocamente

A vida explode e o mundo segue
Além do nosso encontro não há nada
O tempo é brincadeira breve
Em nossa combustão descontrolada

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Precipitação

Em meu olhar talvez fique evidente
O quanto meu coração fica contente
Por ouvir-lhe as notícias dessa vida

Que seja remorso sonho ou ferida
Qualquer coisa que me conte
Relate crie ou monte
Encontrará em mim um ser atento

Pronto para sorrir exatamente no momento
Alegre
Em que a paixão se precipita
No seu beijo com o sabor da tempestade

Amor em Movimento

Hoje foi o seu olhar
Que me trouxe algo bom
Para sentir, para amar
Ouvir atentamente aquele som
Que sopra sempre sem parar
No ouvido de quem está apaixonado

Ontem foi o seu sorriso
Que me veio como aviso
De que a noite sem você
Seria dor
De em saudade se perder
Enquanto sonharia com seus lábios

Amanhã a vez dos nossos medos
Que ardendo cairão no esquecimento
Como a folha derradeira em movimento
Que encontra a calmaria no amor

Exagerices Verdadeiras

Digas que vem e não demores
Se não vieres
Meu peito explode

E não haverá caleidoscópio
Capaz
De dar-lhe algum sentido

Estranhezas

Meu amor é dor
Meu amar é mar
Meu sofrer é ser
Nosso agora
É sempre

Alterações Alquimícas da Paixão I

O Mundo se realiza agora
Revela-se a cada passo de aurora
em uma escada para lugar nenhum

Ressoa minha cabeça vazia
Pelos momentos da sua boca macia
Para evaporar minha alma ardente

Seu olhar me engole
O Amor me transforma
Transmuta
Transborda
Alquimicamente
Todos os efeitos
de uma paixão
Súbita

sábado, 23 de maio de 2009

Terrorismo Humano

Para viver o amor
Há a necessidade imperativa
De se lançar uma bomba
Com raiva e calmamente
Dentro da boca do Mundo

Pedido

Quero, de fato e sem dúvidas,
Uma paixão que me incenere o coração
Que arranque sem piedade
Aquilo de amor e humano que em mim reside

Não temo as destruições e cataclismas
Nem o ardor da paixão cortante
O que me angustia é ser frio e cético
Um ser podre que nem berrar consegue

Tudo está em jogo
No desafio de tornar-se vivo
Minhas crenças e deveres
Meus medos e covardias

Tudo arremessado
Lançado e jurado
A um turbilhão
Que me engolirá por fim

Consequências

Gritei amor pela janela
estourou o vidro do prédio
faltou energia ao sinaleiro
escorreu cimento do relógio

Floresceu
uma colméia de flores
em algum ponto do universo

Um jeito de amar

E continuar
E seguir
Lidar com o fato
de que poucos têm ouvidos
para ouvir
e muito menos alma aberta
para entender

Esse meu jeito de amar
Que se recusa a passar por forte
Que se entrega de verdade
Quando os outros são só palavras
Que já tentou negar a si mesmo
Mas ao fazer isso
Tornou-se mais do que sempre foi

Sob o céu azul de nuvens quiméricas
espera sim um olhar
tal qual uma estrela supernova
Para arrancar da minha boca
declarações e poemas
Sorver de meus olhos
Juras e lágrimas
abismos
ou compassos
de uma canção que vê
com os ouvidos de um peito rasgado

Tarde de Outono

Venha das nuvens
E caia do céu cinza
como se vinda
De um mundo que não é esse
Para ouvir de mim
O nada de tudo
Que a Ilusão finda
E a estação que o nosso amor
Anuncia

Seja passagem,
Um salto de uma nuvem a outra
Por ouvir de mim
toda a verdade
Que desejo berrar a vida
toda a coragem
Que desejo arrancar do espelho

Serena e tranquila
Em sua inominabilidade
de ser meu anjo
No sonho de uma tarde de outono

Despedida

Sou apaixonado
Por cada palavra
de nossos encontros
Por cada abismo
de nossos olhos
que se cruzam

Por todo os espaço
do não dito
que nos transborda
Até pela dor
que me fica
Sufoca
No silêncio sem jeito
Da nossa despedida

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Virada Cultural

Queria criar palavras novas
Que fossem passaportes à experiência lisérgica
De estar onde estive nos últimos dias
Queria encadear as letras
Como notas musicais de uma harpa edifício
Para transportar o leitor ao coração da anarquia

Tudo era novo
E no óbvio a essência de seu próprio avesso
Andei divagando por ruas imundas
Ao som da música transcendental
Dancei diferentes ritmos e sensações
E nunca me senti tão louco
Ao celebrar a cultura racional

Saltando de momento em momento
O tempo suspendeu-se
Para o mesmo não lugar
Onde decidiram descansar as regras

(Tudo é válido em meio à multidão)
Enquanto a orgia sonora toma as ruas de entrega
Equilibristas sobrevoam a Av. São João

As pinturas que Dali nunca imaginou
Desfilavam como sendo banais
E as profecias que Blake jamais vislumbrara
Em um suspiro de segundo se tornavam reais
A antropofagia de Oswald de Andrade
É celebrada em sua forma máxima
O pudor de devorar
É esquecido
Enquanto o rap trepa com a estética esotérica
Nos corpos, corações e ouvidos
Daqueles celebrantes a dançar dionisiacamente

Nas ruas todas de um centro urbano monumental
O que se vive em meio lixo cosmopolita
È a supra-realidade além de qualquer sonho surreal
Não se pode esperar nada que não seja isso
Estamos pós-apocalipticamente criando e dançando
Em meio a tudo o que é vivo
Em meio ao lixo de osmose que nos transmuta
Se é cidadão sendo mendigo

Mendigo cultural
Bandido transcendente
Aqui todos estão juntos
Dominando o mundo
Na paixão de um momento evidente

Correm os palhaços pela parede de vidro do edifício
Suspendem-se redes para que artistas assistam shows performaticamente
Dormem seres humanos e seus filhos em meio a lixo babilônico
E Reginaldo Rossi canta a música que toca o coração do povo

Tudo vale onde nada é
E se o mundo existe em algum lugar
É aqui que ele se realiza

terça-feira, 28 de abril de 2009

Aos Putas Velhas

Para mim basta uma garrafa caramelo
umedecendo o papo
Nada sério
de amigos a celebrar o sol da tarde

Enquanto passam aviões de compromisso
Chovem noticias de crise e epidemia
Dos televisores
e jornais

A conversa guarda-chuva
no papo das calçadas banais
nos dá a tranquilidade
para admirar aquilo que merece
nossas palmas e ais

Essencializando

Para ir à felicidade
felicidade apenas
é pouco

Ritual Matutino

O sol já raiou e ainda tenho gosto de noite na boca
Fico na cama até o sono me dispensar,
Afinal hoje não serei herege com o pai dos sonhos.

Ao invés de maltratar a manhã com o berro de despertadores
E com a corrida sonolenta atrás do ônibus
Prefiro abrir mão de tudo,
Tudo o que não é vida.

O mundo já está funcionando,
Quase que ouço o som do trânsito
A bronca dos chefes e professores
E o som abismal
Dos bocejos de todos aqueles
Que não gostariam de estar onde estão

Abro mão,
Sigo tranqüilo ao meu ritual
De saudação à vida e à manhã

Uma xícara de café,
Ler um poema de Drummond
Olhadelas ao céu matinal
E acordes de um samba bom

Cuidado e nada feito com pressa
Assim
Começo o dia poeticamente
Na ressaca imoralmente mágica
De dizer não pro mundo
e sim pra vida

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Poema Sincero

Agora tenho sono
E um comprometimento real
Com todas a minhas verdades
Mesmo aquelas ainda não formuladas

Sou um pedaço de confusão
Como todo ser
Sou sincero quando convicto
E sempre convicto
frente à verdade que reside em mim

Não lamentarei a efemeridade
Nem a fragmentação
(apenas variações da mesma
antiga superficíe da experiência humana)
Nem por isso afirmarei verdades universais,
Não esperem de mim enunciados ou postulados
Sou tudo e nada entre um cientista
e um poeta
na busca de condensar-me no resíduo final de tudo:
O amor

Em qualquer pedaço real da vida cotidiana
Encontro a fagulha que torna todo o ser
uma estrela,
Na mesma medida em que meu estômago
evidencia certo asco e repugnância
Para os inconscientes em relação à vida
Como se me considerasse
Mais esperto, mais convicto
Mais sincerto e mais humano

No mesmo segundo
Sempre provisoriamente
me envolvo de piedade
(Por mim e por todos)
A ponto de me achar patético,
Apesar de claro, óbvio e verdadeiro
Como deve ser um gota de chuva

Resolvo minha equação
Nos termos da minha intuição
Me sinto verdade empática
Asco prepotente
Tudo no mesmo salto
Em que me sinto amar
Em que me descubro
Humano

A vida traz em seus poros
Sementes o suficiente
Para fazer brotar de tudo
Nas mais diferentes superfícies
Sendo eu parte revoltada
(por vezes histéricamente resignado
por outras sinceramente apaixonado
Um lunático que passeia entre o cômico
E a doçura demasiada que me torna enjoativo)
Sendo eu parte...

Apenas germino o que o vento me sopra
sou hoje amor, sou sempre amor
que frutifica diferentemente
dependendo da estação,
da semente e do PH do solo

A verdade
É que mesmo sendo abstrato
Sou sempre real
Pois abstração não existe

Quero papel e caneta
bons amigos que me entendam no olhar
Madrugadas para beber impiedosamente
E no fim, no começo
ou em qualquer momento
Uma paixão, Um amor
Sereno ao ser corrosivo
Para me fazer esquecer de tudo
Enquanto me torno
Mais de mim mesmo

Outunning

Tantas vozes
dentro de um dia único
tantas memórias
em visões súbitas

Em meu modo de ser Outono
Por vezes
caio
Em outras
Vôo

Liminar

Um outro ser
Pois que já não apenas
Aquele que sempre fui
Mais de mim
Menos do que já não era,
Aquilo que devia ser

Reflexividade

Que coisa estranha
Sentir sono
Ou perceber-se ao ingerir comida
Que coisa estranha
estar apaixonado
E sentir muita vontade
de fazer algo idiota
Que coisa estranha
é essa vida
Que nos semea sentimentos
E nos tira de si
Para nos levar vendados
Ao salão dos espelhos lúcidos

A poesia em mim

Poesia,
Alimento e Analgésico
Da parte
Que é, em mim
mais humana

Imperativo
do destino
do ser
do divino?
Não sei

Faço poesia como um escravo
da parte humana em mim
Como um qualquer que pára
e olha as nuvens

Transmutação do Sono

Durmo
Como parte
de se fazer
existir
Mas temos
certamente
De admitir
Que viver a noite
Seja em poemas
em copos
em flertes
ou em conversas
É como transformar
o apito da fábrica
e o ritmo de um relógio
em jazz

domingo, 29 de março de 2009

Solidão em compasso II

A solidão
traz desejos irrealizáveis,
como um bufão
que faz piadas de mal-gosto
na busca de se auto-afirmar

Ao sentar-se na mesa
Para um café de fim de tarde
Nunca quis tanto
Estar com uma companheira de longa data
Apaixonada, desconhecida, linda
E boa de conversa

Tudo isso para que
quando fossêmos tomar
nossas xícaras de café
houvesse apenas uma vontade de ficar em silêncio
para deixar que os acordes de um samba,
bem triste e auspicioso,
conduzissem as mensagens de amor
que navegam no oceano a separar nossos olhos

Solidão em compasso I

(à Carlos "Tucano" Eduardo)

A luz amarela
escorre da lâmpada
para iluminar
a mim
e meus instrumentos poéticos

Enfim
Após instantes intensos
de angústia
Posso escrever

Chove gravemente
sobre o pôr-do-sol
Que resistiu
sereno
Para ir embora
apenas

Saí de casa
quando ainda não chovia
Até meus cachorros,
sempre tão afobados
entenderam
a seriedade dae meu olhar em agonia

Saí para o jardim
Pois nada me restava

Todos os meus livros
pareciam desinteressantes
Todas as experiências
não valeriam a pena

Nem o violão me seduzia,
Jogar minha angústia sobre ele
seria uma desfeita
E não havia nenhuma paixão
para ser cantada

Desta vez
Sentar e meditar
Seria como um tiro
Na própria cabeça

As cores de um pôr-do-sol torto
me conveceram.
Cinza a nuvem de anúncio chuvoso
Azul o que permanece
Púrpura o crepúsculo
Visto por entre casas de concreto
Púrpura a luz do poste
Começando a se aquecer

Foi a chuva que garantiu
Uma solidão proiveitosa
poética e minha.
Seu barulho
escorrendo em meio ao vento gelado
Cantava a existência da vida
apesar de tudo

Um Baden-Powell
de início de noite
Narra em um compasso
A tarde que se inicia
em silêncio,
banha-se em jazz
e faz nascer,
escondida pelas nuvens,
a lua sob anunciação da bossa nova

segunda-feira, 23 de março de 2009

Canto aos poetas

Chorem todos os poetas!
Sei que a gravidade
dos seus olhos
(sombreados de amor)
Talvez os levem
A um dar de ombros sereno
Ou a um flerte furtivo
com a moça que passa

Sim, senhores
apesar de tudo
o passear das moças
apesar de não tão despretensioso
como outrora, ainda está ai

Mas chorem poetas,
Quando a Lua não surgir
e solitariamente
Vier uma lágrima de desanuvio
chorem este pranto,
que vos canto.

O mundo ruiu,
Continuou assim desde a tempos
e tem teimando
em arrastar a vida toda ao abismo

Não nos resta o luto de sétimo dia
O morto já foi enterrado
E sua memória é agora longínqua

O ar nos falta
O amor também

Vós que cantais
a angústia
do desencanto que pairava
Agora não veriam fragmento
do que um dia foi lamento

Tudo muito pior
E auspiciosamente o mesmo
E assim me encontro aqui
a lhes dizer:
Chorem poetas,
Pois ao reluzir de suas lágrimas
chorarei também!

terça-feira, 10 de março de 2009

Consta-t-ação

Fiquei só
A espera
Calei
A solidão

segunda-feira, 9 de março de 2009

Aquilo que bem sei

Tragam-me algo para beber
Pode ser conhaque
Que seja vinho de preferência
Mas tragam-me algo para beber

E uma companhia serena
Que me ouça
E não me queira tirar
De onde estou

Alguém que apenas fique
Comigo
Solitário

Que há o sol,
Que há lua
O vento e a nuvem
A chuva e o poente
Disso eu sei bem

Que são eles que me levam
Ao sorriso de peito aberto
Eu bem sei

Por hoje não me tragam visões
Só quero algo para beber
Que seja quente e deixe leve
A cabeça
A melancolia residente

E também um amigo
Solitário mas nem tão calado
Alguém que ouça e beba
E me diga ao findar da conversa
Para que eu olhe
Calmamente
Alguma estrela

domingo, 8 de março de 2009

Desapego Temporal

Todas as decisões
já foram feitas
Todo o mundo
vibra de acordo
com aquilo que ja é

Preocupações
deixadas de lado,
apenas a navegação
em presença
Quando a memória
é superficie descartável

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sola e susto

A sola de meus passos
são o método de conhecimento do mundo
O susto de meus tombos
Nada mais do que a lição da estrada

quinta-feira, 5 de março de 2009

Se for pra amar

Se for pra amar
que seja o berro
vindo da boca do coração
a música
que celebra a entrega

Se for pra amar
que seja a história
um conto de loucuras
destruindo tudo aquilo
que um dia existiu

Que sejam queimadas
na combustão explosiva da paixão
todas as mediocridades e covardias
um dia presentes na alma dos amantes

Se for pra amar
que seja para encantar a vida

Palavras sobre o Viajar

Tudo é posto em cheque
todas as experiências, crenças,
valores, compromissos e idéias
São fervidas na panela do risco

Dionisificando

Seja sempre
a certeza incerta
de entregar-se
ao baile das desfragmentações

torne vivo o momento
ao embriagar-se
na essência apaixonante
de nascer e morrer

Voar pelas planícies
(instantes sem tempo)
no amor intenso
Por tudo o que exala
paixão e vida

Visão fatal

Abri os olhos durante o beijo,
Momento de vida apaixonante
Trouxe-me o horizonte em morte no olhar

Será que estou assim por ter sido o único
A entender a dança
Feita a dois no céu azul?

Como voávamos,
Em valsa matine
Pelo céu de uma cidade triste?

Voei e vi o vôo
Sonhava acordado
Saboreando a carne da fruta
Com todos os planos
Sendo abandonados na mordida única

Os olhos da morte vieram então me tocar
Engolir-me como os dela
Que quando fechados estavam
Abriram todas as fechaduras do coração

Flores do Jardim

Flor artificial azul
No cabelo negro mágico
Da fada forasteira

Brinca no ar
Nuvem de crepúsculo
Leva contigo
O meu sonho bom

Nasce o sol
Emissário do horizonte
Conta histórias orientais
Ao povo que te espera

Caído no pó da estrada
Ficou o coração,
Doce entrega furta-cor

Toda alma apaixonada
Espera mesmo é por você
Oh aurora do meu sonhar

Sol e dança

Vi mil sóis nascendo
Em céu de lágrima,
Doce onda de mel
Veio atentar-me a boca

Dança em meus olhos
Para ficarmos juntos
Em um momento de entrega,
Dança comigo
Dama livre em sonho

Fagulhas de fogo róseo
Queimaram de mim as artérias
Infarto sorridente
De um peito a mergulhar no sol

terça-feira, 3 de março de 2009

Apenas o que interessa

Entrego-me a tudo
E de uma vez por todas
Deixo todo o ceticismo de lado
Pergunto aos céus e aos astros
Rendo-me aos arquitetos galácticos
Pois só o que me interessa é amar

Me pego em devaneios tolos
Sobre a nossa conexão astral
Sinto saudade de abraço dado ontem
Entrego todos os meus sonhos poéticos a você
Pois só o que me interessa é amar

Apaixono-me sem saber história alguma
Me espanto pelo amor à primeira vista
Não tenho receio
E entrego-me na trama de sincronicidade
Pois só o que me interessa é amar

Quero subverter seus planos
E o que os meus
Sejam implodidos pelo seu abraço
Quero dar com você
Diversos passos na estrada da vida
Quero ver o amor explodir
Um prisma de cores no horizonte
Para nos guiar na caminhada sem medo

Tudo isso eu quero
Tudo isso eu sinto
Pois só o que me interessa é amar

O feitiço que virou contra o feiticeiro

Eu que sou efêmero

Que acredita que tudo passa

Que vive cantando o fragmento

Que tudo,

Tudo é apenas momento

Agora gostaria que fosse eterno

Que vivesse além do mundo

Que a vida inteira durasse

Que nada,

Nada desfragmentasse

Eu que falo em mudanças por segundo

De passos estradeiros de andança

De efemeridade e momenteio

Da vida que se vive em dança

Agora gostaria de morrer com você

Na cidade que escolhêssemos

Para nosso amor atemporalmente viver

Onde ficaria nossa paixão cravada

Todas as vezes

Que nos movêssemos juntos para a estrada

Tudo ruiu

Inclusive a ruína

De achar que tudo se desfaz

Agora desejo que o castelo de areia

Dure para sempre

Na praia de onde

Se pudesse eternamente

Contemplar seu oceano

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Luz Ébria

Momento de mergulho
em uma solidão lúcida

arrancou das conclusões
a esperança gratuita
das letras

A lúcidez,
que na clareza
não deixa de ser ébria
encanta
acalenta
espanta
tudo o que não vibra
toda a estagnação
de não estar entregue

Carona Noturna

Céu escorrendo o brilho das estrelas
manto negro de mistério
envolvendo a entrega da espera

Pegando carona de incógnitas
em estradas desconhecidas
sigo o caminho da trilha do acaso

Entregue na possibilidade,
os passos e o espírito
São envolvidos pela realidade
dos inúmeros acontecimentos

Entrelaçando-se na trama das sincronicidades
Arremesso uma caneca de consciência
No olhar do Infinito

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Gosto da Pêra

Primeiro é apenas expectativa,
a saliva é ativada pelo
mero vislumbre sensorial
Depois vem o vácuo
inexplicável relação com o real

Até o momento do toque
que é eclipsado
pelo tremor doce da mordida
(a perfuração de uma
nuvem de areia)
Seguido por explosões
sucessivas do melhor
dos jogos artificialmente exóticos

Um vale que se derrete
a cor verde lisico
que toca, transborda

gosto enfim
relações neuro sensitivas
pula o verde momento
dente com pera
pera no dente
lingua na pera
mente,
tudo se afina
gestando um gosto
todo movimento é um rio

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Recado

Já não me preocupo mais,
Estou sacando
O lance da vida

Nascendo sempre
dia-a-dia
Estou poetizando
A entrega, querida

Não me venha
Com palavras
As histórias existem
O mundo é assim...
Encantado sem tempo
Sem fim

Diga
aos calendários perdidos
que não mais voltarei

Cante
para as horas que se esticam
que a vida encontrei