terça-feira, 28 de abril de 2009

Aos Putas Velhas

Para mim basta uma garrafa caramelo
umedecendo o papo
Nada sério
de amigos a celebrar o sol da tarde

Enquanto passam aviões de compromisso
Chovem noticias de crise e epidemia
Dos televisores
e jornais

A conversa guarda-chuva
no papo das calçadas banais
nos dá a tranquilidade
para admirar aquilo que merece
nossas palmas e ais

Essencializando

Para ir à felicidade
felicidade apenas
é pouco

Ritual Matutino

O sol já raiou e ainda tenho gosto de noite na boca
Fico na cama até o sono me dispensar,
Afinal hoje não serei herege com o pai dos sonhos.

Ao invés de maltratar a manhã com o berro de despertadores
E com a corrida sonolenta atrás do ônibus
Prefiro abrir mão de tudo,
Tudo o que não é vida.

O mundo já está funcionando,
Quase que ouço o som do trânsito
A bronca dos chefes e professores
E o som abismal
Dos bocejos de todos aqueles
Que não gostariam de estar onde estão

Abro mão,
Sigo tranqüilo ao meu ritual
De saudação à vida e à manhã

Uma xícara de café,
Ler um poema de Drummond
Olhadelas ao céu matinal
E acordes de um samba bom

Cuidado e nada feito com pressa
Assim
Começo o dia poeticamente
Na ressaca imoralmente mágica
De dizer não pro mundo
e sim pra vida

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Poema Sincero

Agora tenho sono
E um comprometimento real
Com todas a minhas verdades
Mesmo aquelas ainda não formuladas

Sou um pedaço de confusão
Como todo ser
Sou sincero quando convicto
E sempre convicto
frente à verdade que reside em mim

Não lamentarei a efemeridade
Nem a fragmentação
(apenas variações da mesma
antiga superficíe da experiência humana)
Nem por isso afirmarei verdades universais,
Não esperem de mim enunciados ou postulados
Sou tudo e nada entre um cientista
e um poeta
na busca de condensar-me no resíduo final de tudo:
O amor

Em qualquer pedaço real da vida cotidiana
Encontro a fagulha que torna todo o ser
uma estrela,
Na mesma medida em que meu estômago
evidencia certo asco e repugnância
Para os inconscientes em relação à vida
Como se me considerasse
Mais esperto, mais convicto
Mais sincerto e mais humano

No mesmo segundo
Sempre provisoriamente
me envolvo de piedade
(Por mim e por todos)
A ponto de me achar patético,
Apesar de claro, óbvio e verdadeiro
Como deve ser um gota de chuva

Resolvo minha equação
Nos termos da minha intuição
Me sinto verdade empática
Asco prepotente
Tudo no mesmo salto
Em que me sinto amar
Em que me descubro
Humano

A vida traz em seus poros
Sementes o suficiente
Para fazer brotar de tudo
Nas mais diferentes superfícies
Sendo eu parte revoltada
(por vezes histéricamente resignado
por outras sinceramente apaixonado
Um lunático que passeia entre o cômico
E a doçura demasiada que me torna enjoativo)
Sendo eu parte...

Apenas germino o que o vento me sopra
sou hoje amor, sou sempre amor
que frutifica diferentemente
dependendo da estação,
da semente e do PH do solo

A verdade
É que mesmo sendo abstrato
Sou sempre real
Pois abstração não existe

Quero papel e caneta
bons amigos que me entendam no olhar
Madrugadas para beber impiedosamente
E no fim, no começo
ou em qualquer momento
Uma paixão, Um amor
Sereno ao ser corrosivo
Para me fazer esquecer de tudo
Enquanto me torno
Mais de mim mesmo

Outunning

Tantas vozes
dentro de um dia único
tantas memórias
em visões súbitas

Em meu modo de ser Outono
Por vezes
caio
Em outras
Vôo

Liminar

Um outro ser
Pois que já não apenas
Aquele que sempre fui
Mais de mim
Menos do que já não era,
Aquilo que devia ser

Reflexividade

Que coisa estranha
Sentir sono
Ou perceber-se ao ingerir comida
Que coisa estranha
estar apaixonado
E sentir muita vontade
de fazer algo idiota
Que coisa estranha
é essa vida
Que nos semea sentimentos
E nos tira de si
Para nos levar vendados
Ao salão dos espelhos lúcidos

A poesia em mim

Poesia,
Alimento e Analgésico
Da parte
Que é, em mim
mais humana

Imperativo
do destino
do ser
do divino?
Não sei

Faço poesia como um escravo
da parte humana em mim
Como um qualquer que pára
e olha as nuvens

Transmutação do Sono

Durmo
Como parte
de se fazer
existir
Mas temos
certamente
De admitir
Que viver a noite
Seja em poemas
em copos
em flertes
ou em conversas
É como transformar
o apito da fábrica
e o ritmo de um relógio
em jazz