quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O olhar

O poeta é
um desencaixado

mantém
o olho vidrado

Na paisagem que o mundo
deixa de lado

sábado, 5 de dezembro de 2009

Flooding Window Blues

Já havia me reconfortado
Com a tristeza chuvosa de meu estado
Concordado em deixar a poesia aos mestres
Enquanto me contentaria
Com o saboreio amargo
Dos restos poéticos que em mim ressoam

A tristeza dos detalhes me abate
Fecho os olhos
E o viver se apresenta como oceano imenso
Convidando a coragem do navegador
Para um naufrágio trágico

Fora de mim o mundo existe
Qualquer conclusão sobre a vida
Enferruja como navio abandonado
O sonho mal aproveitado
Arranha a consciência
Fino vidro cruel riscando o coração

O que me invadiu foi a janela
Uma fresta de respiro em meu silêncio
O que me inundou foi a espera
Poesia transbordando
A tão cortante materialidade
Daquela miragem poética:

A janela quebrada pelo desleixo
Era minha própria consciência em pedaços
Flertando por entre as grades que me sufocam
Com a cinzenta liberdade do céu

Só mesmo em versos
Para manter viva
A metáfora material da minha visão
Só mesmo em versos
Para compreender esse pulsar
Tão agudo do meu coração

Incontente

Por que deveríamos
Nos contentar insuspeitos
Com um pilique qualquer
Se viver pode ser
Uma embriaguez transcendental?

Interlúdio

Enquanto o desiludido
traga seu charuto de cinismo
A margem de erro da paixão
Segue fazendo suas vítimas