quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pra que?

Pra que soprar sem ter barulho?

Agora que já nos tornamos
Seres acostumados a dormir submersos
No seio barulhento da metrópole

Agora que o tempo é múltiplo
No calendário secreto
Que riscamos na própria carne

Fale-me do avesso
de tudo o que ressoa em meus ouvidos
para apertar o coração

(esse cantinho de mundo irreal
que só dorme
quando no limbo do entressono
consegue captar as canções da estrada
como se estas fossem
um estremecimento nostálgico
das entranhas da terra)

Fale-me do avesso
de tudo o que encurta a vista
para amargar o paladar

Quero um salto ao contrário
No horizonte aberto das possibilidades
Abrir um canto escondido
Onde o tempo se perdeu
e assim o inútil é sempre inútil
Mas no por isso menos celebrado

Pra que soprar sem ter barulho?

Quero vendavais sorrindo
na epifânia epidérmica do berro
Quero temporais cantando
o sentido último da embriaguês nostálgica

Agora sou um salto sem volta
na via-láctea das minhas ilusões
Apenas um bailado ritmado
nos tropeços do desequilíbrio

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