domingo, 28 de novembro de 2010

nosso amor III

O amor entre nós se pôs
como um anúncio,
-um entre-nuvens- das mais belas
fronteiras a se dissolver

O amor se dispôs entre nós
como um descuido,
um entre-olhos do destino
no escuro do cinema

O amor se dissolveu em nossos corpos
e nos transferiu sua divindade
com os raios da mais doce
da mais doce liberdade

O amor nos levou até seus mares
Apresentou-nos tempestades
de onde agora enlouquecidos
não queremos mais voltar
nossa pura vaidade
no mar dentro de amar

domingo, 7 de novembro de 2010

dia de cão

dia de cão

cão não tem posses materiais
cão não tem palavra
cão só tem nome por que gente dá
cão não tem ideologia
cão não negocia
nem com vendedores
nem com amigos
nem com amores
nem com familiares
nem com bancários
nem com salário
nem com ninguém

cão não vai ao dentista
(não estou falando de cães-humanos... mas sim de um cão)

cão não tem conta de banco, nem limite estourado
cão não tem crise criativa, nem mundial
cão não tem crise existencial

cão não tem eleição
nem televisão
cão não tem patrão
nem religião

cão não tem prozac, nem insônia
não tem utopia
não tem babilônia

cão não tem nem tempo de terça-feira,
ou nome pra semana inteira

que loucura triste e urbana
seria o dia em que em vez de latir
(que é, dependendo da lua,
evidentemente uma forma intensa de blues)
o cão tivesse que usar seus esforços comunicativos
para fazer acordos e contratos
no intuito de gerir seus excrementos
ou possibilitar a viabilidade de seus tormentos
gostaria na verdade,
de ter um verdadeiro dia de cão...
a saudade é o tipo de de sentimento,
que como a amizade,
une humanos e cachorros

Rabiscos

Constituo-me
através de rabiscos
Lapsos de ser
dispersados em papéis

Perdidos em cadernos
hibiscos cruéis
distrações de invernos
verdades de verões
lampejos de eternas
outonadas sensações
Que nos levam
a um sim de primavera
que encerram em flores
o fim de uma era

Constituo-me rabiscando
através dos riscos de ser
enceno raptos perversos
pelo sabor de viver
mais uma palavra
um outro verso
um amor a se arder

Constituo-me rabiscando
apaixonado pelo que invento
Para entender criando o que me aflige sem razão
Para amar a tudo sem saber a intenção

Rabisco para tudo
Poesia é uma busca
intensa viagem brusca
pelas flores e espinhos da palavra,
VIDA...

chuva na sala

Na sala de aula chuva
sobre a mesamarrom de madeiraterra
um relógio amarelo sorri garoa
sobre um vento de olhos dispersos
seria ambrosia pensar na utopia
de ponteirosentido a primavera
seria amora pensar na história
fugindo a memória desertando um sertão
sorrio pro mundo apontando ilusão
fiapos de manga entre meus dentes
amarelo ardente sonhando azul
nalgum lugar o pôr do sol soletra
seus inventos de insano poeta
sobre o tempo atento de um florescer sonoro

Lá vai

o sentido do vento tem algo
a ver com o horizonte
uma página nova se abrindo ao acaso
o desenho fatal dos lábios da amada
no rumo incerto de uma praia tropical

a cor do mar
com sua turquesa presença
tem certamente algo que nos lembra

o dia de naufrágio
que nos trouxe a esse estágio
de tão alucinada navegação

-Lá vai o capitão do navio
Em sua veste de Madrugada
Ausenta-se do noturno ofício
E por instantes sustenta o vício
De fazer da Lua sua amada

Multiplicidade dos cantos concebidos sobre as impressões à quádrupla razão

I

Cantos insoles
solenemente invadem meus ouvidos ébrios,
segundos psicodélicos.

Apenas o som cotidiano de um tempo passado,
vida que corre, que vai e que vira,
de repente desatina num compasso desritmado.
A vida auto-falante, de filtro amarelo, cabelo amarrado.
Ela sentida ao embalo de uma canção,
repentina vida
concebida no poema plural e sativo
que aos poucos vem, vindo a quatro mãos.


II

Peixes de rio
em nossos corpos descansam,
nas ondas de frequência
onde canta a voz etéria.
Corações jovens balançam, na mecânica matéria...

temos um vislumbre aquoso de um encontro auspicioso.
um instante, um mergulho aos olhos do espírito.
Um gole d'água, uma idéia em princípio.
Uma viagem em seu início no solstício da ilusão
e em cada parte forma-se a corrente,
conecta vinil e respira inspiração,
de ideia em ideia,
pensamento em pensamento,
faz-se a torrente. de pingo em pingo,
o clube na agulha faz um respingo.
Aretha fagulha no leito de um rio,
um blues no coração colore a oração
de meus absurdos tímpanos mudos,
no vago sentido obscuro
de buscar o amor.


III
...Minha vida de fósforo folk
acende o mundo esta noite.
meu dia é véu,
veneno de manto sem estrelas,
sem constelação ou vulva morena.
costuro sem agulha meu coração banhado em éter,
lambe gilete e dispensa catéter...