segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

De peito aberto

Falar de poesia ás vezes é chato
tentar entender,
complicando o que se faz pra sentir
pode facilmente
tornar-se um ato enfadonho

Para não corrrer riscos
Muitas vezes prefiro os pássaros
aos criticos
e um súbito azul
como público predileto

Para não correr riscos
(ou seria o inverso)
Assumo ser poeta, assumo meu ofício
Sabendo que não serei eu
a dizer se meus poemas
Valem mesmo a pena

A mim cabe apenas dizer
criar-fazer lançar o tema
tudo por que, como disse um conterrâneo
Me recuso a viver num mundo sem sentido

Quero todos os riscos contido nos rabiscos
Nesse lúcido devaneio de se fazer poeta
Quero todos os riscos da vida
do florescer às feridas
Ameaçando a pobre meta dos meus dias
no sentir dos dias velozes

Arriscar-me, na liberdade da minha linguagem
À moda de quem se lança
De peito aberto a uma nova viagem

A prova dos nove

Vou publicar no meu blog
a blague desses tempos
Vou postar em minha tela
o após dos segundos

Fazer um vídeo nosense
esperando minha fama
Lançar-me num tubo estrangeiro,
e tentar sair da lama
Talvez até twittar
um haikai quando plantar
meu bonsai de araucária

Afinal a vida é vária
e Tupi or not Tupi,
ainda é a questão
e apesar da ilusão
e do pesar do love
a alegria ainda
é a prova dos nove

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Algo além da Imensidão

E é assim que o pôr- do-sol é belo por tudo aquilo que nos faz perder"

Antonin Artaud


Despedidas,

Sol que nasce no fim da tarde

como amigos reatando

Laços sinceros de amizade


As nuvens,

nomades do tempo

do céu do instante

Vão sendo coloridas...


A luz sob suas imagens de ar

A obviação do óbvio

no imanente lampejar do vazio:


“Cala-te mente,

nada senão agora

aqui para além das palavras

contemplo”


Torno-me o por do sol

suas cores, seus devaneios

sua magnitude de silêncio

seus múrmurios ecoando mistérios


Sou todos os prédios

e muito mais esse

referente colorido e transtornado

de nosso amor em mutação


um poema que fosse

mais ágil do que a morte

mais ameno que a noite

algo menos que um pensamento

algo além da imensidão

Ponteiros da Tranquilidade

Cotidiano da ciência
devolve tiro no pé.

Por entre dentes
de concreto e horizonte,
Límpido Azul
em tons de branco
almejando os prazeres da cidade

Cansado de ilusões
a noite se pensa através de mim
Vejo-a vestindo-se
sem pressa
para seu encontro sem estrelas

A cerveja quente
Ameniza
o pesar inexistente

Num desfile de incertezas
O amor tropeça no cotidiano,
Refaço meus planos
e resignado
tento acertar
os ponteiros da tranquilidade

Súbito Temporal

Sinto vontade

de escrever um poema

Sinto vontade

de ligar pra minha vó


Nisso me lembro

de uma grande alma

atravessando um oceano só,

em um navio cargueiro

com apenas sete dólares,

com um consciência clara

e um baú de livros


o céu se enche de nuvens

até o vazio do azul

parece nublar-se


Fica roxo o céu da tarde

trovões estremecem

e se inicia um temporal

Sonho Sonho

Sonho que se sonha sonho


e o sol risonho vem nos despertar.


Sonho que se sonha aurora


e um som lá fora enlouquecendo o ar


Sonho que se sonho sonho


e o bom do sono é nunca acordar


Acaso sonho que se sonha


sonha?


ou sonho sonho


se desfaz no ar?


Percepções II

Como uma fagulha tudo se desfaz

viajo em segredo no fechar de olhos

tudo pulsa tudo age tudo vibra

acontece e se esquece de dizer que é


se dispersa inconsequente e sonha

em rua livre o domínio da iluminação sem graça

aceita tudo num desejo mudo

e percebe o mundo num salto sem volta

Percepções

A vida trêmula ao teu redor.

Entre mudanças e aconchegos

Já quase não te lembras

Da lamuriosa vertigem das fendas

Nem do auspicioso vagar dos caminhos.

Se perde entre premonições

E num espanto

Segue coagulando versos

onde o abismo anula o som


Patética Estética

Escrevo em tom experimentalista

ás vezes até

de modo óbvio,

concreto como aroma na floresta

às vezes disperso

num traço louco de serpente

Sonhado por um pintor bêbado

que tivesse desvendado as cores do sol


Penso sabendo pensar

ser efêmero como incenso

escrevo contando criando

buscando o não pensar

O inesperado andando

sobre as trilhas do que escreverei


Tento escrever poemas

que só atingem

o patamar de fragmentos.

Contento-me, afinal

os momentos são também impermanentes

nada é assim tão congruente

e as gotas de chuva

não mais do que gotas de chuva


Assim precipito-me

alternando-me sazonalmente

Variando entre tormento e inspiração

entre sonhos de outono

e vertigens do verão


Das rimas ao assimétrico

modo de pensar

Da canção ao hermético

sonho de criar


Sei que sou patético

mas algo nas cores do fim da tarde,

nas nuvens adensadas de chuva e de azul

na indiscriminável face do vento

no indescritível gosto dos lábios da amada

tão doces tão ácidos

Algo me diz levemente

como num tácito poente

que apesar deste sentimento

ocre de patético, sussurradamente

algo me diz isso tudo é poético

O mar da Paixão

O mar da paixão

é uma entrega sem horizonte


um vôo

de asas trágicas e em chamas

Sobre um céu de escolhas efêmeras




O laranja da canga

Tarde de um dia

quase qualquer,

um dia de amor


Na parede elefantes dançam

Mantricamente

aos embalos do vento

A canga laranja

na mandala do tempo


Enquanto isso no sofá

listrado em diferentes tons

algo entre tangerina ardente

açafrão e om


Nos lançamos em imaginativas

Leituras em meio à fumaça


Devoção Transcendental

Krishna se faz presente

através de uma canção

Néctar transcendental

Semente

A luz além da ilusão


Krishna não cessou de ser

afinal ele é o não-nascido

mil pétalas de lótus

reluzindo sob seus passos


Galáxias acompanham-lhe sorrindo

Enquanto melodiosos devotos

Entusiasmados

carregam flores de alegria


Afinal ele é o tempo

o próprio infinito

A poesia de um verso bonito


Em um tema sonoro

Descobre-se o ouro

O próprio momento

Verdadeiro tesouro


No equilíbrio do cosmos

No fundo do azul

Seres espirituais

Fagulhas eternas

Reunem-se sob sua misericórdia


Em uma casa Fraterna

Nesta Presença Divina

Pratica-se humildemente

devoção transcendental



Do Grande Vazio

Quero-queros

gorjeiam em berros

protejendo seus ninhos


o sol da manhã,

se levantando entre colinas

colore a imensidão dos caminhos


Mais um novo dia nascendo

longe da cidade

o esplendor é sempre

mais evidente


Verde ancestral

por entre os escombros

a vida se renova

Verde tapete

na lâmina d'água

a vida caminha


Deságua no som das àrvores

com seus galhos balançando

quase que o vento

mostra sua face

A sanga escorrendo

do ventre da terra

a água vertendo

do grande vazio,

um olhar que revela falta



O eu cotidiano desperto

O que esperava

de um trêmula promessa

Nem mesmo os ventos

poderiam dizer


Experiência vital somente

semente de aperceber,

um modo de buscar a vida

Sapateando em diferentes

ritmos distintos de ser


apostando em indesperadas

perguntas que desmontam

desmantelam desencontram

o eu cotidiano desperto

Inventar o Mundo

Amar detalhes

do óbvio alerta

ou despertar

de um sonho


de ser humano

(doce ilusão)

de ser estrada

(ácida dádiva)


por dar risadas

e embalados pelo nada

inventar o mundo

Nos Olhos da Harpia

Quem já cortou

a palavra de um poema?


Quem já perdeu

tropeçando

o tema da vida?


O azul carpe diem dos pássaros

é nos olhos da harpia

o céu a procura

A visão da poesia

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

apaixonados em meio as impressões de um pôr-do-sol

Foi numa das nossas viagens

a primeira em que do ínicio ao fim

éramos apenas eu e a mulher amada

doce companheira estradeira

também apaixonada pela poeira da estrada


descemos a serra pela graciosa

em busca do que não sabíamos ao certo

na certa que por amor, vontade

de viver e ficar junto procurar amor-verdade

reiventando segundos em nossas maneiras de amar


na certa também que por tédio,

pra inventar um remédio

que transmutasse aquele drama

de viver a vida urbana que tanto alimentava

nossos sonhos estradeiros de voar sem paradeiro

“like a roling stone”e viver fora dela

numa casa de campo, ouvir mais passarinhos

com seus gorjeios e encantos

avizinhar cachoeiras e ao abrir a janela

abraçar o horizonte desfrutando carinhos


apaixonados em meio as impressões de um pôr-do-sol


Nos perderemos entregues ao arrebol

em tons de azul e amarelo, laranja e púrpura,

de violeta e dourado de nuvem e cor

nunca imaginados por nossos corações

inundados em ondas de amor

nem nossas ilusões, angústias ou devaneios

nem cem anos de solidão ou mil encarnações perdidas

terão força para impedir os anseios

luminosidades brotando do caminho amoroso

que a gente decidiu acreditar


assim como olhar

para uma fonte de infância

naquele cidade para qual fomos

ao descer a serra me pôs a sonhar

o tempo corre sublime

menino e brincando

girando encantando

ou sentando num banco

olhando olhos verdes falando em amor

sem se importar, no entanto

se a vida

está a passar

canto por canto

Quem

Quem é o artesão

quem é o artista

o que é arte

o que é ilusão

quem


a lei natural dos encontros

o que faz o por do sol parecer um conto

ou até mesmo parecer um quadro

a cada dia novo recriado

quem

a criação

de um pintor bêbado

incansável em sua busca

de extrair beleza


Quem

no porém realidade

é maestro de nuvens sobre a cidade

quem

no polém das flores

e primavera nova

reinventando amores


Quem

na insaciável busca e sedução da noite

é no horizonte em chamas

um anúncio da lua cheia

pra dizer que ama


Quem

ao se debruçar sozinha sobre estrelas

pensa no infinito e no oposto do horizonte

sonhando um poente visionário

flutuando no inverso de seu itinerário


quem

o sol

esse tempo sem horário

quem esse artíficie

de todo o imaginário

terça-feira, 23 de agosto de 2011

o poente

gente o poente é um ente
um poeta inteiramente
extraordinário

derrepente um presente no céu
as cores do seu crepusculário

No horário em que o mundo
parece parar
sem segundos para receber
os mistérios de mais um dia que se vai

Evidência

Quero-queros gorjeiam seus berros
Protegendo seus ninhos

O sol da manhã entre as colinas
colore os caminhos

um novo dia
nascendo longe da cidade
o esplendor
é sempre mais evidente
mais perto da verdade


Brincadeira de voo

Dois pássaros
(pequenos prazeres de voo)
Brincavam faceiros
em espirais ao redor de um prédio

Não ligavam
nem para o trânsito
Nem para o tédio

Dois Hai-Kais Verdes

Verde Ancestral

por entre os escombros

a vida se renova






Caminha a vida

na Lâmina d'água

Tapete verde

Poética de Vôo

Tácito Sussurro
Num mudo despertar

Olhos abertos
Almejam Voar

Algo me diz

Tento escrever poemas
que só atingem o patamar de fragmentos

contento-me
afinal, os momentos também são efêmeros
e as gotas de chuva
não mais do que gotas de chuva

assim precipito-me em alternâncias sazonais
variando entre tormento e inspiração
sustos de outono e nostalgias do verão
das rimas ao assimétrico do hermético à canção
Sei que sou patético não mais que ilusão

Mas algo naquilo que escondem
as cores do pôr-do-sol
naquilo que nos mostram
as nuvens adensadas de chuva
e no azul da indiscriminada
face do vento
Algo no gosto indescritível
dos lábios da amada
Algo nessa loucura gostosa
que nos dá a estrada
tacitamente me diz
que apesar deste ocre
sentimento de patético
tudo isso é poético

e por isso escrevo
por isso sonho
e assim me atrevo
num brincar risonho

tentando encantar o mundo

Azul de Rapina

Quem já cortou
a palavra de um poema?

Quem já perdeu
tropeçando
o tema da vida?

o azul carpe diem dos pássaros
Nos olhos atentos da Harpia

É como um céu procura
Na visão da poesia

Náufrago de Transcendências

I
Treme o espírito
Em uma entrega celebrada
Dançam os ventos
Sem se importar
Um furacão conduzido
Nas asas de mil colibris
Carrega intensamente
Meus desejos de ser

Sofro num despertar
Presente do corpo
Perco as palavras

E Tudo que me resta
É a canção da floresta

II

De olhos fechados
Adentro o mundo de sonhos abertos
Sou conduzido por uma leveza
Que me traz a paz de uma praia tranqüila

Deitado e sem forças
Quase um náufrago de transcendências
Sinto saudade das pessoas que amo

III
Num profundo silêncio
Adentro nos mistérios da mata
Ao viver meu ser se dissolve

Sou um
Com o que não conheço

No ponto luminoso
De meu desejoso coração
Florescem pétalas de lótus

Prostrado e humilde
Faço uma prece profunda

E assim ao modo que um rio
Molhando o leito lascivo da terra

Uma calma na alma me inunda

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cotidiano ou Práxis do Amor

A gente se ama a gente brinca a gente conversa
a gente cozinha recita, a gente faz festa

a gente faz amor a gente briga
a gente lê e a gente fuma
ganja tabaco camomila
a gente fica bêbabo e admira a lua

a gente perdoa a gente performa
a gente se apaixona e a gente termina
sonho que sonha a gente, loucura que nos fascina

a gente se entrega a gente se forma
a gente estuda e se revolta
a gente se acalma e pensa na alma

a gente faz planos pro futuro pensando em desapego
a gente flutua em meio ao caos
a gente lida com o real a gente lida com o sossego

a gente arruma casa paga conta
vai no mercado e lava roupa
a gente acorda cedo

a gente canta mantra
a gente aprende tantra
a gente se atrasa a gente transa
a gente pira a gente viaja
a gente medita a gente se excita

a gente se entende e se desencontra
a gente descobre e faz de conta
a gente revela e a gente arde
a gente admira o fim de tarde

a gente se beija e a gente faz arte

a gente vê filme acende incenso
a gente se entedia e entende o momento
a gente escreve poema pensando na estrada
a gente ama a gente canta a gente dá risada
olha a janela sem pensar em nada
ouve disco e faz um som
olha a canga o apanhador
a gente se espanta a gente se encanta
a gente entoa o om

recebe amigos pais mães avós
irmãos irmãs avôs e primos
primas sogros e sogras
a gente festeja a gente chora
a gente faz música e abre um sorriso
e de peito aberto para um improviso
a gente vive uma história de amor

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Modernidade

poema
lema moderno

moderno
lema poema

terno
andando na lama

brincando
na chama do inverno

andando
um lama eterno

interno
olhar sem transtorno

na chuva
uma nuvem mudando

segue
um eterno retorno

criar o novo
de dentro do ovo

tirar o alho
do tal do baralho

achar o ritmo
no som do chocalho

brincar de discreto
no seio do branco

ser um tanto concreto
sem saber o quanto

transando paragens
de dentro de imagens

mudar ideias
lançando miragens

como num vôo
por entre as palavras

abrindo passagens
tropeço nos versos
eu faço reversos
como num sonho

concreto
abstrato
parece risonho

o nosso retrato
juro que espero

o ato dos atos
um verso discreto

recato profeta
vulto ilusão

citações

Segundo eu mesmo
Enfiem no cu
suas tão valorosas citações

se não conseguem
pensar sozinhos

isso não é
problema meu

cotidiano da ciência
devolve
tiro no pé

Sensação de esquecer

Fica a sensação estranha
de estar esquecendo algo
confiro mentalmente a bagagem e tudo está ali
pétalas de azaléias sorriem pra mim
e cristais translúcidos filtraram nossas vibrações

enquanto quadros dependurados
presenciavam nossas óbvias e hilariantes conclusões
lá fora a noite cobria
o mar com um manto sem estrelas
chovia consciência em nossos telhados atentos

As nuvens permanecem:
beuganvilles e azaléias floresciam na entrada
portal de cores e madeira nos roubando as palavras
flor dentro da flor risada sobre a risada
rosa envelhecido, tons de nostalgia
nas pétalas do tempo sensitiva é a poesia

Outrando-se

Em mente
tenho resoluções certeiras
e de certo modo fixas
Sobre aquilo que me comove,
ser ou não ser

de modo passageiro
estou tranquilo em meus anseios
e talvez de pés fincados
no solo perturbado
das ilusões sem precedentes

expreito curioso
a cotidiana experiência
de divagar em meu calmo labirinto

eu me curvo ao meu ser superior
incertezas inconstantes
fico atento aos instantes de mutação interior

meu olhos
mais precisamente
meus globos oculares
são envoltos por uma névoa
que os sustenta como um manto
garras feitas de seda
uma alvorada entretanto

névoa crepuscular
laranja sensação
de uma tranquila ardência
fixa no agora

intenso profundo oceano
de ser em si outro
mas, como um capitão
de uma incrível nau
que em meio a um naufrágio
se eleva aos raios sorridentes
de uma lua cristal-crescente
e assim permanece
em lúcido vôo de tempestiva loucura

Três pessoas. Seis. Sete
a sempre imaginária
roda simples
de encontros reinventados

um sabor ócreo-púrpureo
de um amargor quase silvestre
um sabor quase inconteste
da doce realidade

que é servida na esquina
de qualquer grande cidade

Quantas mutações cabem em um instante
com quantos devaneios se configura uma fuga
com quantos saltos uma entrega delirante
se revela evolução e percepção iluminada
e se nas gotas dessa chuva fosse tudo uma ilusão
fosse tudo real na fronteira do nada

Lágrimas segundantes
desdobrando a via errante
na face esbranquiçada das nuvens

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pôr-do-sol no sexto andar

Narrativas míticas se perdem
na lucidez do apaixonante.

cotidiano à dois é inebriante,
Invenção do mundo em mil motivos

Instantes sinceros
nas intenções de se amar

Num prédio do centro, sexto andar
a cada momento,
uma história de amor acontece...

O suceder dos dias,
por vezes tão rápido no mudar das cores
momentos eternos quase relapsos
um puro amor intenso como o das flores

sabor de inverno
atravessando a primavera
na janela do andar um auspício me espera
se revela concreta do fim ao início
a vista indiscreta do horizonte urbano
o que não impede ao sol, meu pintor favorito
suas colorações inéditas de criador insano

praticando vipassana com pratos ensaboados
testemunho nossa cozinha ensolarada
sempre em movimento quase nem sinto
aquela saudade da estrada

(vicío de olhar
todos os dias em seus olhos
de mirada esmeralda
e infinita como o céu)

narrativas míticas se perdem
na lucidez de um apaixonante cotidiano
à dois inventamos o mundo
em nossas mútuas intenções de se amar

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Noção de consequência e fim numa noite fresca (work in progress)

Linda de lua
cheio de noite

Não fugirei ( )
aceitarei as metaformoses
e acalentarei suas raízes vãs

Vício amareluz
da esperança
vício de amar a dança
principio de amar a luz


amar reluz a luz de amar
amor e luz
saem juntos pra dançar
a luz de amar re-luz no mar
luz e amor se combinam ao luar

Lua cheia,
sua aura realça
o amareluz das alças
de luz na luz
do quadro azul
da noite escura
relaçando a obscura
procurainvenção
de amor

“de mais e mais amor....”


o amor reluz
a aura cheia de luz
amareluziu
uma luz que se apaga

segunda-feira, 28 de março de 2011

elegia outonada (outunnig elegíaco)

Olhei pra vida
ela me olhou
fechei meus olhos
o tempo parou

Olhei pra vida
ela me olhou
fechei meus olhos
no pouco que sou

olhei pra vida
ela nem percebia
fechei meus olhos
pra ver que sorria

olhei pra tudo
e o mundo mudou
estranho andarilho
que me perturbou

olhei pra fora
e vi a estrada
louca e errante
correndo pra nada

olhei pra fora....
e vi a estrada
doce princesa
de tudo e de nada

olhei para o olho
pra ver eu olhando
só encontro um escuro
luar me amando

olhei pra tudo
pra ver o futuro
fechei os meus olhos
pra ver o incerto

Inverti a retina
pra ver se sorria
o mundo nem via
o mistério tão perto

olhei os seus olhos
e hesitando um segundo
vi folhas caindo
em outono profundo

olhei para vida
enxergando sem lema
abri a ferida
e escrevi um poema

olhei os seus olhos...
tão lindo o agora
e lancei-me em seu verde
ao lembrar nossa história

olhei os seus olhos
tão louco o agora
e lancei-me em seu verde
sem sonhar a vitória

caiu uma folha
na escolha do tempo
se assenta num susto
suave momento

caiu uma folha
na escolha do tempo
se assenta suave
num leito de grama

tudo tranquilo
num peito que ama
caiu uma folha
num denso mergulho

se despede dos galhos
e se deita sozinha
como todas as outras
fazendo sua parte

uma ideia noturna
permance sombria
o outono é pra mim
sempre uma arte?


caiu uma folha
numa queda marcada
e de algum modo sem motivo
me alegro em estar vivo
me alegro pela amada

caiu uma folha
na escolha do tempo
é possível cair
sem o sopro do vento?

terça-feira, 15 de março de 2011

Deságuas I

hora do infinito
em ciclo sem fim
prescrito o rito
será o fim serafim?

ao som dos universos
inaudito às galáxias
transcrio meus versos
às novas sintaxes

enquanto isso
matem-me

no tempo na dela
uma estrela me espera
nesse espaço momento
sou apenas pra ela
meu brilho é ela
meu sol é ela
meu eterno é agora
céu com janela

Deságuas II

e terno é o aqui
agorasempremundo
o prazer no que vivi
eternovastomundo

um rio retornando
em gozo fecundo
da própria serpente à sua semente
um lindo segundo

mordendo sonhando
a luxúria de um ato ao som do regato
um sonho somente de eterno retorno

o gosto da fruta a doce maça
o lábio da flauta,
a suave fumaça

desnuda gemendo o prazer da manhã
a vida é um orgasmo
beijo que passa
Luas lembrando cor de romã

implode o marasmo e tão derrepente
amor florescendo no seio do agora
parece um presente a cauda é o olho
o horizonte a aurora

o olho é a cauda
o tempo que acabe
amor que deságua
em mar suicida

que tudo desabe em uma ferida
fazer do oceano avenida florida
nascendo de novo pra te conhecer

luaral que inicias
responde ao destino
dá em mágua essa vida?
Dá em vida esse viver?

...

e que não ficassem
os ruídos da incomunicabilidade
posto que não há
alegria maior
do que uma comunicação
bem estabelecida

o amor já não sei
mistério profundo
ao som de poréns
viajens insanas
rumando ao incerto
riso louco que dança
esperança
até no deserto



"alegria é a prova dos nove"

Espelho solitário

deixo uma palavra
ao que resta
de segredo
tudo que me falta
escorre a esmo
no destino arlequino
cantor da solidão

cantor da solidão
no destino arlequino
escorre a esmo
tudo que me falta

de segredo

ao que resta
deixo uma palavra





Ass... Talkings

o mundo num segundo

depois do fim
o mundo é assim
passageiro viajante
devaneante impermanente

louco visionário asceta
deus renascido
som da floresta
depois do fim
o mundo é assim:
gosto de fim de festa
no pouco tempo que resta

seguindo errante
inconsequente
em sua loucura
de girar
eternamente

diapazão

miragens
na paisagem
trespassam minha visão
aprofundo o equilíbrio
ressoando o diapazão

insipido início
dessa percepção

aos loucos tiroleses

de tempo em tempo
alguém passa
berrando suspenso
sobre o céu
do nosso momento

de tempo em tempo
passa alguém
berrando alegria
no nosso porém

um louco divagando
mergulho imenso pirando
aéreo sobre todo festival

tirolesa lisérgica
anima o carnaval

folha na sombra

a folha
fazendo
sombra
na folha
fazendo
sombra
na sombra
fazendo
folha
na sombra
nascendo
escurece
o silêncio
Luz

aos amigos mineiros

ê Minas!
sua sina estradeira
me persegue nas curvas
de suas serras mineiras

Gerais
são todos os caminhos
sentimentos intensos
nesse sonho imenso

rio de amizades
no qual me perdi
para me encontrar
voar e morrer de saudades
lembrar que sorri
e vivi de verdade

frutos da estrada
não brotam do acaso
descaso sonhado
da nossa risada

escriba de piras

anotando viagens
ao som de miragens
escriba de piras
marcando passagens

viver é mais simples
no mundo embrião
só quero mesmo
abandonar a ilusão

estréia

Acampando
de frente
ao pôr-do-sol
e com uma
janela de árvores
aberta à via láctea

Inauguramos
o carnaval
numa noite
ébria de rock 'n' roll

é dia

gostaria
de esquecer que hoje é dia
dia ou ilusão
gostaria
de esquecer que hoje é dia

de qualquer coisa
que não poesia
qualquer sentimento
que não paixão

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

uma dança

um flor enlouquecida
tentava conter a ventania
ao modo que um sabiá
paquerando em dia frio

suas saias e pétalas
levantaram transpirando
em cores o fervor do baile

admirados
os galhos sustentavam o ritmo
tudo a contemplar
a contra-dança sem par
atiçando a ventania

desperdício

se todo ser humano
é uma estrela

por que passar a vida
sem ardê-la

olhar de susto

presto atenção
aos seus olhos
e amo o infinito
de tudo o que vejo
fluindo
e escorrendo em minutos
transmuto tão susto
que assim tão doce
nem percebo

por agora

Por agora
não adianta ler poemas,
inconsolável é a essência irônica
daquilo que te aflige

Não adianta o gol, o prazer
o presente
nada cala o ardente

olhar que te falta

nada substitui
a carícia que te enlouqueceu
aquela boca que te seduziu
para mostrar em êxtases

os cantos coloridos
onde reluz o universo

Vem Amor

O barco foi lançado
em algum lugar vai dar
Que ao menos haja dança
transbordando de esperança
a espera de amar

O barco foi lançado
um dia vai chegar
que ao menos haja fogo
transbordando todo lodo
no medo do luar

Entre espirais e suspiros
inventar um novo hino
no florescer de um sonho intenso
Aceitar cada momento

Vem amor
que não temos muito tempo
não existem contratempos
iludindo nosso vôo

Vem amor,
o céu é tão imenso
brincadeira de menino
no gosto bom do jogo

Vem amor
que o sol é devaneio,
beijo derradeiro em sonho estradeiro
colorindo o verão

Vem amor que o mundo é vão
vão-se os dias passando então
já não nos resta muito
com que se preocupar
o céu é nossa estrada
estrela guia da alvorada
nos chamando pra voar

Desaprendendo

entre o escuro
e a despedida
uma estrela despontava
repentina anunciava
a vinda das constelações

entre a espera
e a melodia
o dia se findava
e a estrela anuciava
o entardecer das ilusões

levantamos,
tendo acompanhado
o pôr-do-sol até seu fim
E saímos aliviados
pelo mundo ser assim
tranquilos e sabendo
ter desaprendido o suficiente até ali,

Agora suspeitávamos
com mais clareza em nossos escuros
qual o lado da noite umedece primeiro

arco-iris

Chove a chuva de verão,
na estrada um portal
de cores e luz
enamora-se nos raios de sol

Sem que percebessemos
prismas de água desabrochavam
na boa sorte de nosso temporal

rumo ao sol

Quatro corações

num sonho, voam livres

o verão ressoa

Novas lembranças

serenam raízes, um tema

de vida a toa

Rumando ao Sol

esquecemos o medo

Tranquilamente

manhã de sonho bom

Um galo
sozinho
tenta
tecer a manhã

os olhos
são amanhecidos
de surpresa

depois de um sonho bom
tons de turquesa
invadem a lembrança

na ponte do rio Zé Pedro
faz sentido nossa andança

a esmo

Vacas Abanam

Seus Rabos

No pasto do sossego

esqueço de tudo

num bom de miragem


lembro de como é bom
estar a esmo

mesmo que seja só de passagem

embalo da estrada

A chuva nos acompanha
numa brincadeira risonha

estranho jeito de estar diferente
sonho suspeito que vem de repente
nas veias no imenso Brasil

Apenas amor se fosse pra escrever
apenas uma palavra no seio da estrada
que vai dissolver poesia em risada
tudo embalado na mesma jogada

reta longa

Olhos novos
num segundo eterno
Deixe estar...

(Corações de ouro
desbravam Minas)

Tudo ficar
Por morros e curvas,
Entardecer
Em uma viagem desaparecer

Voar no sopro sonhado
no vento tão esperado
dançndo numa reta longa

poema estradeiro

1000 km depois, acho que já podem sair as palavras
lisas e frescas
como o vôo sincrônico de um casal de araras verdes

Sobre as veredas e curvas da estrada
lembro-me de um poeta japonês (estradeiro também),
costumava dizer que poesia boa,
como um salto ao além,
se escreve fora de casa
ao ar livre livrando as asas

E assim siguimos essa viagem musical
sobre quatro rodas
Brasil afora num passeio astral

sábado, 5 de fevereiro de 2011

cigarras e cores

Durante o pôr-do-sol
(mostrou-me minha morena):
é na copa dos coqueiros altos
que as cigarras gostam
de explodir a tarde

A volta

depois de tudo...
aperto o botão do elevador
Sob a tão cotidiana
luz da cruz do Guadalupe
estranhamente me sinto em casa

A descarga continua
o seu antigo vasamento
a geladeira que não teve
outro destino

uma viagem passa
e me lembra um sino
anunciando a grande festa
um monge sorridente
(isolado em alguma floresta)
a assopra sua esmerada
mandala de areia
feita em homenagem ao ar

Posso eu contar?
ou apenas
continuar
viajando, caminhando
sem cessar...

esse sonho rápido
de gosto tão intenso
que só encontramos no imenso
seio da estrada
Toma a mim completamente
até muda minha risada

eterno transtorno

o martelo martela
em si mesmo
o próprio prego que o mantém preso

Na parede do museu
uma fixação apregoada
enferrujava infalivelmente

seu emsimesmamento
impressionava até o tempo
aplausos em tom de sarcasmo
sacudiram o seu marasmo

Flamboyant

Vi uma árvore enfurecer-se
ela nem percebia
em meio a cores quentes
chovia vermelho no chão
enquanto coravam
rosadas as pétalas
desabou meu coração

Árvores a marés

As árvores se refrescam
embaladas pelo vento
com suas raízes submersas em oceano,
agradecem molhadas à Lua

Enquanto isso uma borboleta Louca
livre e Leve flutua
num caso de amor arriscado
A maré se joga numa praia estreita
e sem suspeita, se apaixona

Num susto que anda de lado
uma inadequação me inundou
a beira do mar quedou-se em ostras
fiquei sem jeito de lidar com as coisas

Sem dar com isso
árvores e marés
orgiasticamente
continuavam seus ciclos

mergulhos e submersões
sonhos e intensões
floresciam desta dança
tão lunar
em seus prazeres terrenos