terça-feira, 23 de agosto de 2011

o poente

gente o poente é um ente
um poeta inteiramente
extraordinário

derrepente um presente no céu
as cores do seu crepusculário

No horário em que o mundo
parece parar
sem segundos para receber
os mistérios de mais um dia que se vai

Evidência

Quero-queros gorjeiam seus berros
Protegendo seus ninhos

O sol da manhã entre as colinas
colore os caminhos

um novo dia
nascendo longe da cidade
o esplendor
é sempre mais evidente
mais perto da verdade


Brincadeira de voo

Dois pássaros
(pequenos prazeres de voo)
Brincavam faceiros
em espirais ao redor de um prédio

Não ligavam
nem para o trânsito
Nem para o tédio

Dois Hai-Kais Verdes

Verde Ancestral

por entre os escombros

a vida se renova






Caminha a vida

na Lâmina d'água

Tapete verde

Poética de Vôo

Tácito Sussurro
Num mudo despertar

Olhos abertos
Almejam Voar

Algo me diz

Tento escrever poemas
que só atingem o patamar de fragmentos

contento-me
afinal, os momentos também são efêmeros
e as gotas de chuva
não mais do que gotas de chuva

assim precipito-me em alternâncias sazonais
variando entre tormento e inspiração
sustos de outono e nostalgias do verão
das rimas ao assimétrico do hermético à canção
Sei que sou patético não mais que ilusão

Mas algo naquilo que escondem
as cores do pôr-do-sol
naquilo que nos mostram
as nuvens adensadas de chuva
e no azul da indiscriminada
face do vento
Algo no gosto indescritível
dos lábios da amada
Algo nessa loucura gostosa
que nos dá a estrada
tacitamente me diz
que apesar deste ocre
sentimento de patético
tudo isso é poético

e por isso escrevo
por isso sonho
e assim me atrevo
num brincar risonho

tentando encantar o mundo

Azul de Rapina

Quem já cortou
a palavra de um poema?

Quem já perdeu
tropeçando
o tema da vida?

o azul carpe diem dos pássaros
Nos olhos atentos da Harpia

É como um céu procura
Na visão da poesia

Náufrago de Transcendências

I
Treme o espírito
Em uma entrega celebrada
Dançam os ventos
Sem se importar
Um furacão conduzido
Nas asas de mil colibris
Carrega intensamente
Meus desejos de ser

Sofro num despertar
Presente do corpo
Perco as palavras

E Tudo que me resta
É a canção da floresta

II

De olhos fechados
Adentro o mundo de sonhos abertos
Sou conduzido por uma leveza
Que me traz a paz de uma praia tranqüila

Deitado e sem forças
Quase um náufrago de transcendências
Sinto saudade das pessoas que amo

III
Num profundo silêncio
Adentro nos mistérios da mata
Ao viver meu ser se dissolve

Sou um
Com o que não conheço

No ponto luminoso
De meu desejoso coração
Florescem pétalas de lótus

Prostrado e humilde
Faço uma prece profunda

E assim ao modo que um rio
Molhando o leito lascivo da terra

Uma calma na alma me inunda

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cotidiano ou Práxis do Amor

A gente se ama a gente brinca a gente conversa
a gente cozinha recita, a gente faz festa

a gente faz amor a gente briga
a gente lê e a gente fuma
ganja tabaco camomila
a gente fica bêbabo e admira a lua

a gente perdoa a gente performa
a gente se apaixona e a gente termina
sonho que sonha a gente, loucura que nos fascina

a gente se entrega a gente se forma
a gente estuda e se revolta
a gente se acalma e pensa na alma

a gente faz planos pro futuro pensando em desapego
a gente flutua em meio ao caos
a gente lida com o real a gente lida com o sossego

a gente arruma casa paga conta
vai no mercado e lava roupa
a gente acorda cedo

a gente canta mantra
a gente aprende tantra
a gente se atrasa a gente transa
a gente pira a gente viaja
a gente medita a gente se excita

a gente se entende e se desencontra
a gente descobre e faz de conta
a gente revela e a gente arde
a gente admira o fim de tarde

a gente se beija e a gente faz arte

a gente vê filme acende incenso
a gente se entedia e entende o momento
a gente escreve poema pensando na estrada
a gente ama a gente canta a gente dá risada
olha a janela sem pensar em nada
ouve disco e faz um som
olha a canga o apanhador
a gente se espanta a gente se encanta
a gente entoa o om

recebe amigos pais mães avós
irmãos irmãs avôs e primos
primas sogros e sogras
a gente festeja a gente chora
a gente faz música e abre um sorriso
e de peito aberto para um improviso
a gente vive uma história de amor